|
Educadores
Cadastre-se para registrar os seus relatos de experiência com o uso de curtas-metragens em salas de aula e concorrer a prêmios para você e sua escola.

Uma reflexao sobre o Brasil dos últimos 30 anos


Plano de Aula do Filme Cartas da Mãe | Documentário | De Fernando Kinas, Marina Willer | 2003 | 28 min | PR


Henrique de Souza Filho, o Henfil, nasceu em 05 de janeiro de 1944, na cidade mineira de Ribeirão das Neves, que fica a 35 quilômetros de Belo Horizonte. Sexto filho de dona Maria da Conceição e de seu Henrique, foi criado sob a rígida doutrina da Igreja Católica.
Assim como seus irmãos Herbert José e Francisco Mário, era hemofílico, o que inspirava cuidados especiais, porém, apesar da doença, realizou todas as travessuras das crianças de sua época e, nas folgas das travessuras, lia gibis com os amigos.
Na adolescência aproximou-se da Juventude Estudantil Católica (JEC), grupo do qual seu irmão Betinho já era militante, que pregava a participação dos jovens nas questões sociais do país. Em 1961 o seu pai morreu e com isso aumentaram as dificuldades financeiras da família, o que fez com que Henfil fosse procurar um trabalho.
Neste período teve inicio a sua militância na União Municipal dos Estudantes Secundaristas. Contavam os amigos da época que nas reuniões ele fica quieto observando e depois de algum tempo passava para o papel, por meio de desenhos, a postura dos militantes e também os principais pontos do tema do debate.
Sua carreira no jornalismo teve início em 1962 quando foi trabalhar na Revista Alterosa, dirigida pelo jornalista e escritor Roberto Drummond. Na verdade, trabalhava como revisor função que não gostava e nem sequer sabia fazer bem, até que um dia Drummond viu seus desenhos e o convidou para ilustrar a revista.
Seu humor, neste período, era considerado ingênuo, porém fazia sucesso. No cenário Nacional, o país fervilhava - cresciam os debates políticos e os clamores por mudanças até que, em 1° de abril de 1964, os militares deram o golpe.
Para a família de Henfil a preocupação era muito grande uma vez que, seus irmãos Wanda e Betinho eram lideranças de esquerda reconhecidas em Minas. Ele continuou com os seus desenhos indo trabalhar em uma série de veículos até que em meados de 1966 lançou o livro de cartuns "Hiroshima, meu amor".
Criou personagens que representavam as torcidas de futebol como Urubus e Refrigerados e conseguiu com isso fazer sua carreira deslanchar e publicar seus desenhos em O Cruzeiro.
Mas foi sobre o impacto do Ato Institucional n° 5 , em junho de 1969, surgiu o Pasquim, jornal no qual Henfil, já a partir do segundo número, empresta os seus traços para cutucar com vara curta a ditadura implantada durante o governo militar. Os Fradinhos eram os personagens que colocavam o dedo na ferida e discutiam as posturas dos governantes.
Foi também no Pasquim que Henfil começou a escrever a sua coluna, denominada "Cartas da Mãe". Em agosto de 1972, surgem três personagens que marcariam a história dos Cartuns - Zeferino, Bode Orelana e Graúna, o trio nordestino que mostrava ao Brasil as desventuras do povo da caatinga e o subdesenvolvimento do País. No ano de 1976 o cartunista escreveu a coluna de "Cartas da Mãe" na recém criada revista Isto é. No inicio sua coluna tinha muito cuidado com os temas abordados devido à existência da censura. Apesar da repressão existente na época, a aceitação das idéias de Henfil fez com que ele fosse abordando temas cada vez mais polêmicos, como o retorno dos exilados, as greves dos trabalhadores e a defesa das eleições diretas entre outros.
Militou na Imprensa Sindical, fazendo inúmeras campanhas para vários sindicatos e, no inicio da década de 80, foi para a televisão no programa TV Mulher onde tinha um quadro chamado TV Homem. Esteve entre os idealizadores da Campanha pelas Diretas Já (slogan criado por ele) e trabalhou muito para levar a emenda para aprovação das Diretas para o Congresso Nacional, que a rejeitou.
A mais dura batalha do cartunista teve inicio em meados dos anos 80 quando foi contaminado pela Aids após uma transfusão de sangue. Ele resistiu muito e continuou trabalhando, enviando suas tiras para os jornais O Globo e Estadão. Supervisionou a finalização do seu filme Tanga chegando até a comparecer a pré-estréia, mas a doença o venceu e, em 4 de janeiro de 1988, Henfil saiu de cena.
O curta "Cartas da Mãe" é uma crônica sobre o Brasil dos últimos 30 anos, contada através de cartas que Henfil escreveu para sua mãe, Dona Maria. Temas como: política, cultura, amigos e amor são os motes dos textos, que criam um diálogo entre o passado recente do Brasil e a situação atual. O filme possui ainda entrevistas com pessoas que conviveram com Henfil e que por meio da historia do Cartunista vão aprofundando a discussão sobre a situação do país.
A nossa sugestão para o trabalho colaborativo entre os alunos e também de integração de tecnologias é a criação de quadrinhos, que se inicia com uma oficina, e que são apresentados no formato de Cartaz, bem como com a criação de um Blog na internet para a apresentação dos quadrinhos (cartuns virtuais) e das crônicas,o que permite o registro de comentários e a interação entre todos que navegarem pelo blog.




Objetivos
 Realizar uma discussão sobre as realidades socioeconômica, cultural e política do Brasil no período que o filme relata
 Discutir, a partir da história do Curt,: a democracia, as questões das eleições e a importância da informação no momento da decisão
 Pesquisar como era o cotidiano das pessoas no período da ditadura onde existia a censura à informação e como é hoje
 Desenvolver a criatividade com a criação das histórias em quadrinhos
 Desenvolver a expressão escrita ao exercitar a construção de texto (crônicas) que irão acompanhar os quadrinhos
 Desenvolver o trabalho colaborativo
 Diversificar possibilidades para melhoria da aprendizagem através do uso das Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC).

Situação Didática
O trabalho tem início com uma pesquisa prévia, que será realizada pelos alunos em jornais, livros, revistas e Internet sobre como era o período compreendido entre o governo de Juscelino Kubitschek - JK e a ditadura militar. O objetivo desse levantamento é fazer com que o aluno compreenda como as pessoas viviam e também como recebiam informações naquele período.

Na seqüência os alunos terão a apresentação do Curta "Cartas da Mãe", onde é relatada a história do cartunista Henfil, um dos grandes ícones da resistência à ditadura no período.

O professor poderá levar para os alunos algumas das crônicas escritas por Henfil na coluna "Cartas da Mãe" e publicadas na Revista Istoé com o objetivo de aprofundar a discussão e de também apresentar aos alunos o estilo tipo crônica.

Em seguida, a turma será dividida em grupos e cada uma das equipes irá criar um conjunto de quadrinhos sobre temas que envolvam as questões discutidas anteriormente. O uso de quadrinhos em sala de aula é um recurso muito rico, pois sua análise permite compreender uma época da sociedade e suas características. Os quadrinhos permitem ao grupo realizar um trabalho com o enredo, explorar a construção do desenho dos personagens, analisar as expressões das pessoas e as características individuais predominantes a nível estético, moral e intelectual. Quando os alunos são incentivados a montar suas próprias histórias eles representam suas idéias através da criação das expressões dos personagens e de suas falas. Este trabalho pode ajudá-los a compreender e a desenvolver a capacidade de identificação das ideologias que permeiam as histórias. Os quadrinhos têm a particularidade de unir duas riquíssimas formas de expressão cultural: a literatura e as artes plásticas. Isso os torna uma fonte preciosa de inspiração para as iniciativas didáticas.

Após a elaboração das tiras, que poderão ser criadas por desenhos dos próprios alunos, por transformação de imagens em meio digital (utilização de software de imagem) ou pela colagem de tipos retirados de revistas e jornais, as mesmas serão expostas na escola em cartazes e também colocadas no Blog montado para a discussão.
Os Blogs permitem uma comunicação assíncrona sobre qualquer assunto entre alunos de diferentes idades, ambientes ou cidade. Todos os participantes enviam suas contribuições e atualizam os conteúdos, partilhando assim uma visão global dos materiais publicados.

As tiras escolhidas para publicação no Blog devem ser acompanhadas de crônicas, criada pelos alunos, aos moldes das escritas por Henfil na coluna "Cartas da Mãe".

Na seqüência os alunos poderão analisar e discutir os trabalhos dos demais colegas e postar seus comentários no Blog. Caso a Escola não tenha o recurso do computador, os alunos deverão afixar as crônicas juntamente com as Tiras nos cartazes que podem ser expostos em pontos estratégicos da escola. Ao final de um período proposto realiza-se um debate mais amplo onde cada aluno poderá falar sobre a sua experiência.


Pesquisar e discutir:

 O que foi a Ditadura Militar e qual o papel dos artistas neste processo?
 Quem foi Henfil e como ele tentava denunciar as atrocidades da ditadura?
 Quais os reflexos positivos e negativos que o período da Ditadura Militar trouxe ao Brasil?
 O que é democracia?
 Qual a importância do voto para a juventude?
 Hoje temos democracia no Brasil?
 Hoje temos censura no Brasil?
 O que são crônicas?
 O que são quadrinhos?
 Como podemos criar quadrinhos e produzir crônicas?


Os Quadrinhos:

A história em quadrinhos surgiu nos Estados Unidos, no final do século XIX com o intuito de atrair leitores. No Brasil, os quadrinhos apareceram pela primeira vez em 1905, através da revista Tico-Tico de Manoel Bonfim e Renato Castro. Mas, foi a partir de 1934, que surgiu a indústria de quadrinhos como ramo da indústria de comunicação de massas, quando Adolfo Aizen lançou o Suplemento Juvenil, do jornal A Nação e que trazia em suas páginas histórias de Flash Gordon, Mandrake, Pinduca, entre outras.
A consolidação veio a partir de 1943 com a criação da Editora Brasil América Ltda - EBAL, que passou a publicar as histórias em quadrinhos em revistas visando o divertimento infantil. Devido principalmente à sua grande atração estética e seu conteúdo, a indústria de quadrinhos desenvolveu-se rapidamente, atraindo o público infanto-juvenil, que até então permanecia à margem dos jornais e revistas informativas.
Nas décadas de 40 e 50, os quadrinhos travaram uma difícil batalha no país, liderada por educadores e intelectuais que proclamavam que estes representavam a anticultura. Uma das estratégias utilizada pela EBAL para neutralizar essa campanha foi à produção de histórias autenticamente nacionais e a adaptação de obras de literatura para os quadrinhos.
A partir desta iniciativa, o gênero passou a fazer parte da nossa cultura. Dentre as produções nacionais destacam-se as de Maurício de Souza, Ziraldo e Henfil, criador de Fradinho e Zeferino.
Hoje podemos dizer que os quadrinhos constituem uma síntese entre ilustração e texto. Eles mexem com a visão, a imaginação e os sentidos, dando ao leitor uma sensação de movimento.


Para se criar uma tira de Quadrinhos:

1. Levantar o tema e a abordagem que será dada à produção
2. Criação dos personagens - personagens principais e secundários. Para que durante a elaboração da história não surjam problemas, é importante planejar as características de cada personagem, delineando sua personalidade, aspecto físico, estilo das roupas, vícios e virtudes. O Blog pode servir de espaço de discussão para a elaboração dos personagens (pode se criar um espaço denominado "Bastidores". Caso a escola não tenha computador à discussão pode ser realizada em reuniões, mas as decisões precisam ficar registradas por meio da escrita.
3. Os primeiros traços dos personagens - desenhar cada um dos personagens em posições variadas e com expressões faciais bem marcadas. Pode-se usar personagens já existentes por meio da composição de figuras obtidas com colagens de partes retiradas de jornais e revistas, por meio de scanner de figuras impressas ou com imagens obtidas na internet..
4. Construção do argumento- É a idéia geral da história, com começo, meio e fim. Nesse ponto, a partir do tema discutido após os debates e pesquisado pelo grupo, escrever um resumo da história que servirá de base para a elaboração do roteiro.
5. Criação do roteiro - o roteiro é a história planejada quadro a quadro. Nessa fase, as cenas são descritas e os diálogos definidos.
6. Desenho - Marcamos os elementos das páginas como¬ personagens, cenários, balões com os textos escritos a lápis, onomatopéias (palavras que reproduzem sons naturais, como Tchibum! Pou! Crás!) e também os contornos dos quadrinhos (são as margens da tira).
7. Letras - com uma canetinha preta de ponta fina finalizamos os texto dos balões e as onomatopéias.
8. Arte-final - assim como os textos os demais elementos gráficos recebem o contorno de tinta preta, cobrindo cuidadosamente os traços a lápis e corrigindo eventuais falhas.
9. Cor - Essa é a última etapa antes da finalização das Tiras (a colorização dos quadrinhos). Os alunos podem optar entre o uso de lápis de cor, canetinhas ou outras técnicas de pintura que já tenham sido trabalhadas em sala de aula.
10. Existem também alguns softwares de imagem que possibilitam a elaboração e colorização dos desenhos em meio digital.



Comentários
O BLOG

Os blogs estão deixando de ser um "diário virtual para adolescentes" para virar um espaço de discussão e fonte de informações para diferentes setores de atividade. Atualmente vários jornalistas estão criando os seus próprios blogs, a fim de manterem um canal próprio de informação e discussão.
Nos últimos anos, os blogs vêm se tornando populares entre os jovens e começam também a encontrar um espaço nas atividades de sala de aula, uma vez que são mais fáceis de gerenciar do que as páginas web além de serem de livre acesso e interativos, permitem a integração de textos, vídeos e som. Podem ser utilizados também para o desenvolvimento de projetos colaborativos, funcionando entre outras coisas como um espaço para registro dos "bastidores".


Trabalho Colaborativo

Pesquisar e discutir:
 O que é Blog?
 Quais as características da informação de um Blog?
 O que pode conter um blog?
 Como é sua organização?
 Quais as características da linguagem utilizada no blog?


Produção Criativa
 Criar o Blog de acordo com a proposta aprovada conjuntamente entre professores e alunos
 Criar as crônicas que irão acompanhar as tiras desenvolvidas pelos grupos
 Disponibilizar as imagens das tiras criadas pelos grupos (pode digitalizar a imagem dos desenhos com a ajuda de um scanner ou mesmo de uma máquina de fotografia digital)
 Criar links para Blogs que julgar interessantes (principalmente aqueles que enfoquem o mesmo tema dos trabalhos
 Definir se a atualização do Blog será diária, semanal, quinzenal, etc. A definição da atualização do Blog é importante, pois vai acontecer de acordo com a necessidade de informação que o público solicitar.


Material Pesquisado

Revista Nova Escola Abril de 1998
"Henfil - Filho do Brasil" - Publicação Especial do Sindicato dos Jornalista de São Paulo, Janeiro de 2008

Livros sobre quadrinhos:
Azevedo, Juan .Como Fazer Histórias em Quadrinhos. Global Editora, 1990.
Moya, Álvaro. História da História em Quadrinhos. (2ª edição), Editora Brasiliense, 1993.

Pedagogo Autor do Plano de Aula
Maria Elizabeth B. Almeida


Formação: Graduação em Matemática pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (1973), Mestrado em Educação (Currículo) pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (1996) e doutorado em Educação (Currículo) pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (2000).
Atividades Profissionais: Professora do Programa de Pós-Graduação em Educação e do Depto de Ciência da Computação, da PUC/SP. Tem experiência na área de Educação, com ênfase em Tecnologia e Formação de Educadores, atuando principalmente nos seguintes temas: tecnologias na escola, educação a distância, tecnologia e formação de educadores, inclusão digital, gestão escolar e tecnologias.
Publicações: MASETTO, M. T. ; ALMEIDA, Maria Elizabeth Bianconcini de ; ALONSO, Myrtes . Teacher Education in a Digital Environment: an interdisciplinarity experience in a graduate course. Informática na Educação, v. 8, p. 49-60, 2006. ALMEIDA, Maria Elizabeth Bianconcini de . Tecnologias na educação, formação de educadores e recursividade entre teoria e prática: trajetória do Programa de Pós-Graduação em Educação e Currículo. Revista E-Curriculum, Internet, v. 1, n. 1, 2005.
Nível: Ensino Superior
Instituição: PUC/ SP | | SP