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A música popular brasileira


Plano de Aula do Filme Rua da Escadinha 162 | Documentário | De Marcio Camara | 2003 | 18 min | CE


Pra começo de conversa...
O ser humano tem uma capacidade incrível de lembrar. Nós somos capazes de gravar em nossa memória diferentes odores agradáveis ou desagradáveis, diferentes gostos, cores, sinais, sons, imagens, enfim, somos seres de lembranças.
Você já imaginou viver sem se recordar do que ocorreu ontem, anteontem, no ano passado?
Conservar e lembrar as experiências já vividas têm uma importante função em nossas vidas, pois nos ajuda a ter noções de tempo, de rupturas e continuidades, do que permanece e do que se transforma, enfim, a memória nos oferece um fio condutor que dá sentido a nossa existência.
E o que vale a pena lembrar?
Como decidimos o que escolhemos lembrar e o que esquecer?
O colecionador Christiano Câmera que é um apaixonado por música e cinema, por exemplo, optou por guardar diferentes objetos que fazem referência às suas paixões e para isso investiu grande parte do seu tempo e recursos para montar um grande acervo de discos, fotografias, livros, revistas, fitas VHS. Mais que isso, usou a própria casa como sede para guardar esse acervo acumulado ao longo de 50 anos.
Felizmente ele não quer guardar essa imensa memória sobre música e cinema só para ele. Graças a seus esforços, há pelo menos quarenta anos, estudantes e pesquisadores podem estudar e conhecer uma boa parte da história e memória da música popular brasileira visitando sua casa-museu, conversando com ele ou ouvindo suas palestras.
Christiano é uma discoteca e enciclopédia musical ambulantes. Acumulou um conhecimento musical como poucos. A música para Christiano é a principal personagem de suas memórias e ele sempre tem um verso ou uma melodia na ponta da língua pra ilustrar uma idéia, um argumento. Esse pesquisador "enxerga" o mundo pelos "ouvidos" da música popular.
Quem é Christiano Câmara
O cearense Christiano Câmara é um grande conhecedor de música popular, erudita, de cinema, é o que chamamos de pesquisador e "musicólogo" autodidata, pois seu conhecimento não foi adquirido nos bancos de nenhuma universidade, mas por meio dos estudos e esforços individuais. Sua paixão pela música e pelo cinema o transformou em um grande colecionador e sua casa em um museu de imagem e som.
Christiano nasceu em 07 de outubro de 1935 na casa onde vive até hoje, localizada na antiga rua da Escadinha, 162, no centro de Fortaleza, Ceará.
Filho do jornalista Gilberto Câmara, um dos fundadores da Associação Cearense de Imprensa (ACI) e de Zuleika Stael Câmara, funcionária dos Correios e Telégrafos.
Christiano é funcionário público aposentado do Banco do Brasil. De 1974 a 1981 escreveu semanalmente uma coluna sobre música para o jornal O Povo de Fortaleza.
Entre 1982 e 1984 apresentou, na Rádio Cidade em Fortaleza, 112 programas de rádio sobre música erudita. De 1989 a 1994 produziu 99 programas de música popular para a rádio Cultura de Inhamuns, cidade de Tauá (CE). Em 1999 lançou um cd-rom intitulado "Outras Histórias da Música Popular Brasileira"
Sua paixão pelos discos começou em 1952 e hoje o acervo que guarda em sua casa tem mais de 20 mil discos de cera (78 RPM), 8 mil discos de vinil (45 e 33 1/3 RPM) 800 fotografias e reproduções gráficas emolduradas seis estantes de livros e cinco mil fitas em VHS de filmes dos anos 1930 aos anos 1950.
Desde 1962 recebe visitantes, estudantes e pesquisadores, em sua casa-museu para conhecer sua coleção, cuidadosamente garimpada ao longo de sua vida.
Em agosto de 2002, cinqüenta anos depois que comprou o primeiro disco de cera para sua coleção, o acervo de Christiano foi transformado em academia cultural, sem fins lucrativos, registrado juridicamente com o nome de Associação dos Amigos da Casa de Christiano Câmera e continua a oferecer às futuras gerações um rico acervo sobre a cultura ocidental da primeira metade do séc. XX.




Objetivos
Conhecer para preservar apreciar clássicos da música popular brasileira (choro, samba e outros) desenvolver o respeito e a valorização da música popular brasileira.

Situação Didática



Antes e depois da seção de cinema

O documentário Rua da Escadinha 162, dirigido por Márcio Câmara que é sobrinho de Christiano Câmara, é uma homenagem do diretor ao seu tio que há mais de quarenta anos e sem qualquer ajuda de órgãos oficiais oferece a pesquisadores e estudantes seu imenso acervo litero-musical-cinematográfico organizado em sua casa-museu.

O curta apresenta Christiano Câmara contando sua história de colecionador, como foi montando seu acervo o que pensa sobre a música popular brasileira, sobre cinema, sobre a cultura brasileira.

Estimule os alunos a ouvir e refletir sobre as afirmações contundentes de Christiano Câmera: "a arte que precisa ser explicada não é arte é artifício". O que ele quer dizer com isso? Que a verdadeira arte prescinde de explicação, que resiste ao tempo e pode ser apreciada, sentida, entendida por diferentes gerações. Ou então, quando com bastante honestidade confessa que quando começou sua coleção não havia nenhum critério para selecionar o que tinha valor histórico ou não: "Eu não sabia ao certo o que na realidade tinha valor histórico e o que já tinha ido para o lixo da história e nisso aí fui juntando cerca de 20 mil discos de cera e de vinil 8 a 10 mil".

Suas opiniões e expressões impagáveis como 'botar meia-sola na história' precisam ser atualizadas e 'traduzidas para os alunos.

Suas duras críticas ao poder público e à política de preservação da memória e história da cultura brasileira e seus ressentimentos em relação há alguns museus precisam ser contextualizados. Eles são compreensíveis diante da falta de apoio e da frustração de Câmara em não contar com espaço adequado para socializar seu rico acervo.

Depois da seção de cinema discuta com os alunos quais as impressões deles sobre uma pessoa que dedica a sua vida a acumular em sua casa o variado e imenso acervo que Christiano acumulou. O que o moveu a fazer isso e ainda abrir a sua casa para constantes visitas? Como será que é morar literalmente dentro de um museu como faz Christiano e sua família? O que move uma pessoa a dar essa importância para a memória da música e do cinema? Que tipo de critérios eles consideram que nortearam as escolhas de Christiano?

Todas essas questões também estimularam o historiador M. Platini Fernandes a permanecer dois anos pesquisando na casa-museu de Christiano buscando descobrir o que leva uma pessoa a querer guardar tantos pedaços de tantas histórias consigo, dentro de sua própria casa, a alterar a sua e a rotina das outras pessoas ocupando espaços com os objetos e com os sons, rearrumando móveis, abarrotando estantes. Fernandes se perguntou: por que ao invés de fotos de formatura das filhas ou fotos do nascimento dos netos as paredes de Christiano estão repletas de personalidades da música, cinema e rádio? Qual o princípio que norteia as seleções feitas por Christiano, o que ele escolheu guardar para o futuro?

Debates:
Conhecendo um pouco mais Christiano Câmara e organizando suas principais idéias sobre a música e a cultura popular brasileira

Christiano Câmara é antes de tudo um defensor da cultura popular e preocupa-se com a massificação da cultura globalizada que padroniza tudo e elimina as diferenças e nuances, como afirma revoltado em uma entrevista em relação a essa massificação: 'Tá tudo dominado'.

Neste sentido ele é além de pesquisador, musicólogo e museólogo, um profundo educador que tem compromisso com preservação e divulgação de nosso patrimônio material e imaterial para que as gerações futuras possam ter a chance de conhecer o que as anteriores produziram em relação à musica e ao cinema.

Debater as idéias de Christiano que se opõe com vigor contra a massificação cultural (especialmente após a criação da televisão) pode ser uma experiência bastante rica para nossos alunos que nasceram em uma cultura globalizada e têm poucas oportunidades de experimentar outras referências musicais

Há uma entrevista interessantíssima dada por Câmara, em 2005, à revista Caros Amigos (veja o link na seção Para saber mais). Proponha a leitura da entrevista pela turma. Há trechos dela que podem ser ouvidos e nos quais Christiano mostra um pouco do seu acervo e profundo conhecimento musical.

Com apoio da entrevista e dos depoimentos de Christiano no curta Rua da Escadinha 162, organize com os alunos algumas das posições do pesquisador a respeito: da história e memória da música popular e do cinema brasileiro, da cultura popular e da cultura massificada, especialmente após a invenção da televisão.

Comentários

Conhecendo alguns dos cantores e compositores presentes no acervo de Christiano Câmara e outros acervos brasileiros.

Infelizmente pela falta de apoio financeiro Christiano não conta com recursos para criar um banco digitalizado na rede e só quem mora ou vai a Fortaleza pode ter acesso ao seu rico acervo. Mas outras instituições brasileiras como o Museu da imagem e do Som (MIS) em São Paulo, assim como o Instituto Moreira Sales (IMS) oferecem acervos digitalizados que podem ser acessados pela Internet.

Na seção Para saber mais (cantores e compositores) selecionamos alguns links que podem ser interessantes, especialmente o do acervo de música e fotografia do IMS. Experimente fazer buscas com os nomes de Noel Rosa, Orlando Silva, Sílvio Caldas, Donga, Heitor dos Prazeres, Francisco Alves, Luiz Gonzaga e outros importantes músicos e compositores das décadas de 1920 a 1950, você e seus alunos se surpreenderão com o grande acervo disponível em formato digital para que possamos conhecer e apreciar.

Propomos para encerrar a atividade a audição e apreciação de diferentes estilos musicais das décadas de 1920, 30, 40, 50. Algumas letras podem ser pesquisadas na rede e impressas para os alunos possam acompanhar e cantar as canções de um período bastante rico e original de nossa história musical.

Para saber mais:

Sobre Christiano Câmara:

Christiano Câmara o homem que não ambiciona ter, possuir o mundo. Disponível em: http: //www.luzdeveras.com/2007/05/21/christiano-camara-%e2%80%9co-homem-que-nao-ambiciona-ter-possui-um-mundo%e2%80%9d/ Acesso 31 mar. 2008.
http: //carosamigos.terra.com.br/do_site/sonosite/entrev_set05_christiano.asp
ARAÚJO. João Mauro. Christiano Câmara: o povo nunca cantou Garota de Ipanema. Disponível em: http://carosamigos.terra.com.br/do_site/sonosite/entrev_set05_christiano.asp. Acesso 31 mar. 2008.
Trechos da entrevista de Christiano Câmara a revista Caros Amigos: http://carosamigos.terra.com.br/do_site/sonosite/som_entrevistas/trechocristiano1.mp3 e http://carosamigos.terra.com.br/do_site/sonosite/som_entrevistas/trecho2cristiano.mp3.
NETTO. Raymundo. 'A rebelião dos museus', Jornal O Povo. Disponível em: www.opovo.com.br/opovo/vidaearte/698499.html. Acesso 31 mar. 2008.


Sobre alguns cantores e compositores citados por Christiano Câmera:

Donga: http://cliquemusic.uol.com.br/artistas/donga.asp

Francisco Alves: http://cliquemusic.uol.com.br/artistas/francisco-alves.asp

Heitor dos Prazeres: http://cliquemusic.uol.com.br/artistas/heitor-dos-prazeres.asp

João da Baiana: http://cliquemusic.uol.com.br/artistas/joao-da-baiana.asp

João Pernambuco: http://cliquemusic.uol.com.br/artistas/joao-pernambuco.asp

Luiz Gonzaga: http://cliquemusic.uol.com.br/artistas/luiz-gonzaga.asp

Mário Reis: http://cliquemusic.uol.com.br/artistas/mario-reis.asp

Noel Rosa: http://www2.uol.com.br/noelrosa/ e http://cliquemusic.uol.com.br/artistas/noel-rosa.asp

Orlando Silva: http://cliquemusic.uol.com.br/artistas/orlando-silva.asp

Pixinguinha: http://www.pixinguinha.com.br/ e http://cliquemusic.uol.com.br/artistas/pixinguinha.asp
http://acervos.ims.uol.com.br/php/level.php?lang=pt&component=38&item=37 (aqui você pode ouvir o acervo do Instituto Moreira Sales das gravações de Pixinguinha).

Sílvio Caldas: http://cliquemusic.uol.com.br/artistas/silvio-caldas.asp

Sinhô: http://cliquemusic.uol.com.br/artistas/sinho.asp

Para ouvir gravações originais e apreciar fotografias dos cantores e compositores:
http://ims.uol.com.br/ims/publicador_preview.asp?id_pag=206
http://acervos.ims.uol.com.br/php/index.php?lang=pt (abra o link e experimente digitar o nome de um cantor ou compositor e você pode ouvir a gravação de época)

Outros museus dedicados a preservar a imagem e o som do século XX:
MIS- SP: http://www.mis-sp.org.br/
MIS- RJ: http://www.mis.rj.gov.br/
MIS- PR: http://www.pr.gov.br/mis/
MIS- CE: http://www.secult.ce.gov.br/MIS/MIS.asp

Pedagogo Autor do Plano de Aula
Conceição Oliveira


Formação: Especialização em História (lato sensu: História Social da Cultura:1990) pela Universidade Estadual de Campinas; Graduação em História pela Universidade de São Paulo (Licenciatura: 1990); Graduação em História pela Universidade de São Paulo (Bacharelado: 1987; Pedagogia pela Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (2007).
Atividades Profissionais: Tem experiência na área de Educação e História, com ênfase no ensino fundamental, médio, na formação de educadores e produção de materiais didáticos; atuando principalmente nos seguintes temas: ensino de história (metodologia e prática), história africana e afro-brasileira, relações étnico-raciais e diversidade.Atualmente, além da reedição de suas obras didáticas trabalha com formação de professores e presta assessoria na área de produção de didáticos para projetos públicos e para o mercado editorial.
Publicações: É autora de várias coleções didáticas, dentre elas Paratodos-História (2º ao 5º ano Ensino Fundamental), Editora Scipione (Prêmio Jabuti 2005) e História em Projetos (6º ao 9º ano Ensino Fundamental), editora Ática, (melhor coleção do PNLD-2008).
Nível: Ensino Superior