6. Proposta para seqüência didática
6.1. Conhecendo e analisando cantigas de capoeira
Vamos conhecer a letra de algumas cantigas que são entoadas na roda de capoeira do curta? Preste atenção nas letras e procure interpretá-las, buscando seu significado. Depois, tente lembrar em que momento do filme elas aparecem e que tipo de relação estabelecem com as imagens veiculadas e a voz-off do narrador.
Por exemplo, a cantiga abaixo, chamada Leva morena me leva é cantada na roda justamente no momento do jogo entre Maré e Tatuí, a garota por quem Maré fica interessado. Será que a escolha dessa cantiga foi proposital? Por quê?
Vamos ler a letra da cantiga e tentar descobrir.
Leva morena me leva
O leva morena me leva
O me leva pro seu bangalô
Oi leva morena me leva
Que hoje faz frio amanhã faz calor
O leva morena me leva
O me leva pro seu bangalô
Oi leva morena me leva
Que hoje sou capoeira
Amanhã sou doutor
O leva morena me leva
O me leva pro seu bangalô
Oi leva morena parceira
Me faz um denguinho
Me chama que eu vou
O leva morena me leva
O me leva pro seu bangalô
Oi leva morena faceira
Pra um ranchinho
Lá em Salvador
O leva morena me leva
O me leva pro seu bangalô
Oi leva morena me leva
Com o seu jeitinho
De fazer amor
O leva morena me leva
O me leva pro seu bangalô
Oi leva morena me leva
Que eu sou capoeira
Já disse que sou
A escolha desta e das demais cantigas do curta foram propositais: como narrativas textuais, elas ajudam a construir o discurso fílmico. No caso analisado, as idéias de empatia e interesse mútuo entre os personagens de Maré e Tatuí foram reforçadas pela letra da cantiga entoada no momento em que ambos se enfrentam na roda.
Assim, é importante perceber que além das imagens sugestivas que mostram a troca de olhares, os sorrisos e os movimentos corporais de ambas as personagens na roda, a diretora lançou mão da cantiga para reforçar o sentido da mensagem, cuja letra fala justamente de um homem que, apaixonado, quer se deixar levar pela morena, objeto de sua paixão.
Agora que você já experimentou analisar uma cantiga de capoeira e entendeu sua função na construção do discurso do curta, que tal fazer isso com as outras? Para facilitar o seu trabalho transcrevemos abaixo as letras de algumas delas. Boa atividade!
Paranaue
Vou dizer minha mulher, paraná. Capoeira me venceu, paraná.
Paranaue, paranaue, paraná.
Eu aqui não sou feliz, paraná. Mas na minha terra eu sou, paraná.
Paranaue, paranaue, paraná.
Vou embora pra Bahia, paraná. Porque lá é meu lugar, paraná.
Paranaue, paranaue, paraná.
Tem a festa do Bomfim, paraná. E o Mercado Popular, paraná.
Paranaue, paranaue, paraná.
Lá no céu tem três estrelas, paraná. Todas três de carrerinha, paraná.
Paranaue, paranaue, paraná.
Uma é minha a outra é tua, paraná. E a outra vai sozinha, paraná.
Paranaue, paranaue, paraná.
A mulher pra ser bonita, paraná. Não precisa se pintar, paraná.
Paranaue, paranaue, paraná.
A pintura é do diabo. E a beleza é Deus que dá, paraná.
Marinheiro só
Eu não sou daqui. Marinheiro só.
Eu não tenho amor. Marinheiro só.
Eu sou da Bahia. Marinheiro só.
E de São Salvador. Marinheiro só.
O marinheiro, marinheiro. Marinheiro só.
Que te ensino a navegar. Marinheiro só.
Foi o tombo do navio. Marinheiro só.
O foi o balanço do mar. Marinheiro só.
O marinheiro, marinheiro. Marinheiro só.
Quem te ensino a mandingar. Marinheiro só.
Eu aprendi foi com João. Marinheiro só.
E aprendeu com pastinha. Marinheiro só.
Lá vem lá vem. Marinheiro só.
Como ele vem faceiro. Marinheiro só.
Todo de branco. Marinheiro só.
Com seu bonezinho.Marinheiro só.
6.2. Fazendo uma chula
Para trabalhar em conjunto com a disciplina de Língua Portuguesa
As canções entoadas na roda da capoeira sempre contam uma história. Pode ser sobre casos que acontecem na vida das pessoas, sobre os desejos daqueles que cantam, sobre o sentimento dos que choram saudades da sua terra natal ou de alguém especial. Pode ser ainda uma homenagem aos antigos mestres ou amigos do peito.
Em dado momento do curta, Maré diz que "as histórias nunca morrem na roda, viram chula" e termina dizendo "um dia, eu ainda vou inventar a minha".
E de fato ele inventa: ao final do curta, Maré canta pra ouvirmos a chula que fez: além de falar da capoeira e de seus golpes (rabo de arraia, beija-flor, meia-lua e role), reflete a empolgação de Maré com Tatuí, a quem ele elogia na música, chamando-a de moça bonita e por quem é capaz até de cair.
Vamos ler a chula de Maré?
Chula de Maré
Na praia tem capoeira
Tem mesmo venha ver
Tem rabo de arraia
Tem beija-flor
Meia-lua e role
No jogo da capoeira
Tem vezes que eu vou cair
Quando a causa é moça bonita
Cheia de ginga que nem Tatuí
Fui na areia buscar, subi com a maré
Fui na areia buscar, dela eu vou levar
Fui na areia buscar, subi com a maré
Fui na areia buscar, dela eu vou levar
E você, como será que seria uma chula se fosse inventar uma? O que você contaria? Faria uma homenagem ou uma declaração a alguém, como fez Maré com Tatuí? Vamos tentar?